Saxônia-Brasil: Friedrich August II. Revista BRASIL-EUROPA 127/16. Bispo, A.A. (Ed.). Organização de estudos culturais em relações internacionais





Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

Pela passagem dos 200 anos de nascimento de Robert Schumann, o Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa e a Academia Brasil-Europa desenvolveram trabalhos em regiões da vida do compositor, salientando-se aqui a Saxônia como terra de seu nascimento.

O objetivo desses trabalhos foi o de considerar, de forma contextualizada, elos entre os estudos schummanianos e os estudos euro-brasileiros. Uma atenção especial foi dedicada às relações histórico-culturais entre a Saxônia e o Brasil à época de sua vida.

Local de reflexões: Torre de Friedrich August II próximo a Rochlitz

Os trabalhos iniciaram-se simbolicamente na torre erigida em 1859 ao rei Friedrich August II da Saxônia (1797-1854), em colina próxima à cidade de Rochlitz.

Essa cidade é significativa para estudos de transformações populacionais da Europa Central na Idade Média e de movimentos colonizadores.

A região, habitada por povos eslavos, como o nome sugere, passou a ser colonizada por alemães em fins do século XI. Como cidade de direito de foro, Rochlitz remonta ao início do século XIII, quando construiu-se a igreja de Santa Kunigunde. Foi cercada por muralhas em fins do século XIII. Apesar de ter sido invadida pelos hussitas, em 1430, experimentou um período de florescimento, marcado pela reconstrução da igreja de Santa Kunigunde em estilo gótico, entre 1417 e 1476.


A Reformação, introduzida em 1537, marcou uma nova fase na história da cidade. Teve repercussões no ensino, logo ali construindo-se uma Escola Latina. A história protestante da cidade foi marcada pela vitória da batalha de Rochlitz durante a guerra Schmalkádica, a mais significativa vitória dos reformados antes da derrota de Mühlberg.

A cidade foi cercada e tomada na Guerra dos 30 Anos, e em 1632 e 1681 incêndios destruiram parte das construções. Em 1682, transformou-se em cidade de guarnição de infantaria; a sua função militar marcaria a vida e a identidade da cidade. A sua configuração arquitetônica e urbana foi modificada após intervenções que seguiram o espírito barroco e um incêndio de 1802. A reconstrução que se seguiu a esse incêndio marca até hoje a fisionomia da praça central de Rochlitz.



Laços entre famílias reinantes da Saxônia e do Brasil

Dos elos históricos entre a Saxônia e o Brasil à época de Robert Schumann devem ser salientados os dinásticos entre as famílias reinantes nos dois países.

Friedrich August II, da casa dos Wettins albertinos, atuante no govêrno com o seu tio Anton, de 1830 a 1836, e reinante de 1836 a 1854, era o filho mais velho do Príncipe Maximilian da Saxônia (1759-1838) e de Caroline Marie Therese de Bourbon-Parma (1770-1804), infanta de Espanha.

A 7 de outubro de 1819, casou-se, em Viena, por procuração, e em Dresden, em pessoa, com a Arquiduquesa Maria Karoline da Áustria (1801-1832), filha do Imperador Francisco I da Áustria (1768-1835) e de Maria Theresia de Nápoles e Duas Sicílias (1772-1807). Em segunda núpcias, após o seu falecimento, Friedrich August casou-se com a princesa Maria Anna (1805-1877), filha do rei da Baviera Maximilian I° Joseph (1756-1825) e da sua segunda esposa, Caroline Friedrike Wilhelmine de Baden (1776-1841).

Maria Karoline da Áustria, sua prima de segundo grau, era irmã da Imperatriz Leopoldina do Brasil (Maria Leopoldine, 1797-1826), casada desde 1817 com D. Pedro I° (1798-1834).

Maria Karoline, Arquiduquesa da Áustria e Princesa da Saxônia, era filha do Imperador Francisco II do Sacro Império Romano Germânico, mais tarde Imperador Francisco I da Áustria e sua segunda mulher, Maria Theresia de Nápoles e Duas Sicílias (1772-1807). Assim, a mãe de Maria Karoline era a avó de D. Pedro II (1825-1891).

Pedro II casou-se, em 1843, com Teresa Maria Cristina de Nápoles e Duas Sicílias, Princesa de Bourbon e Nápolis-Sicília (1822-1889). A Imperatriz Teresa Maria Cristina do Brasil era prima da mãe de Pedro II, a Imperatriz Leopoldina, filha de Maria Theresia.

Esses vínculos familiares denotam os estreitos laços entre essas casas reais católicas da Europa e o Brasil.

Ambos os casamentos de Friedrich August se inserem nessa política de matrimônios, uma vez que se uniu com a casa de Habsburg-Lothringen, através de sua primeira esposa, a Arquiduquesa Carolina da Áustria, e com a de Wittelsbach, através da sua segunda esposa.

Nesse contexto, percebe-se também o significado global e as implicações européias do matrimônio de Pedro I com a Arquiduquesa Leopoldina e a posição assim adquirida por Pedro II.

Sob esse aspecto, o reino da Saxônia contava com uma situação dinástica comparável àquela do Brasil. A diferença residia no fato de que o casamento de Friedrich August II ficou sem filhos, assim como também o segundo.


Friedrich August II: formação e papel na história cultural centro-européia

A imagem de Friedrich August II é marcada por aspectos que salientam as características positivas de sua personalidade e que procuram explicar a popularidade que gozou. Essa atmosfera positiva marcou já as circunstâncias do seu nascimento, ocorrido no palácio Pillnitz, próximo a Dresden. Fora esperado com ansiedade, já que havia o rísco que a linha albertina da casa Wettin se extinguisse.

Na sua formação, dirigida pelo seu próprio pai, salientou-se no estudo da História e das Ciências Naturais, demonstrando especial tendência para a música, a poesia e o estudo de idiomas. Vinha de encontro, assim, à formação austríaca de sua mulher. Um dos seus mentores importantes foi o general suíço e capitão da Guarda Suíça Johann Joseph Griset, Barão de Forell (1741-1820).

Proveniente da família de Griset, nobilitada no século XVI pelo Duque de Savóia, estudou em Paris, tornando-se pagem do Príncipe Karl Theodor do Palatinado (1724-1799). Foi nomeado, em 1757, por Luís XV, a tenente da Guarda Suíça. Entrou a serviço da Saxônia em 1766. Foi nomeado, em 1769, a capitão da Guarda de Suíços saxã. Em 1799, tornou-se General de Infantaria. Atuou também a serviço diplomático, realizando viagens à Itália. A partir de 1803, assumiu a educação do príncipe Friedrich August; sendo também mentor de seus irmãos, mantendo-se dele próximo até 1816.

Friedrich tornou-se conhecido por sua personalidade afável, por sua amabilidade e por sua abertura a idéias liberais. À sua época, as cidades adquiriram maior liberdade administrativa, os camponeses foram libertos de serviço forçado e de obrigações feudais, uniformizando-se a justiça na Saxônia. Juntamente com o seu irmão Johann e o seu Ministro Bernhard August von Lindenau (1779-1854), realizou a Constituição de 1830/31. As tendências liberais da época exigiam liberdade de imprensa, liberdade de associação, reforma eleitoral, publicidade de atos jurídicos, melhorias da administração, e separação da justiça da administração. Também sob o ponto de vista religioso a tendência da família, embora católica, não era conservadora, mas vinha antes de encontro a impulsos do novo movimento católico.

Durante a Revolução de 1848/49, nomeou ministros liberais e suspendeu a censura, medidas, porém, que logo mudaria. A atitude de Friedrich August II, que possibilitou em alguns casos a solução de problemas, foi vista como uma mudança „líbero-velha“ ("Liberalter Umschwung"). Também sob esse aspecto poder-se-ia constatar uma certa similaridade com a atitude do imperador brasileiro.

Sob o aspecto cultural, Friedrich August II salientou-se pelo fomento das artes, em particular da música. Apoiou e promoveu a Ópera da Côrte e a Orquestra, assim como a construção da primeira Casa de Ópera de Semper. Nomeou Richard Wagner, em 1842, a mestre-capela, tendo este permanecido em Dresden até 1849.

Morreu de acidente durante uma viagem em Brennbichl, no Tirol. Foi sepultado na igreja católica da Côrte de Dresden.

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Indicação bibliográfica para citações e referências:

Bispo, A.A.."Vínculos entre a Saxônia e o Brasil à época de Robert Schumann: Friedrich August II (1797-1854) e seus elos com a família imperial brasileira". Revista Brasil-Europa 127/16 (2010:5). www.revista.brasil-europa.eu/127/Rochlitz-Saxonia-Brasil.html



  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 127/16 (2010:5)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
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ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2649




Vínculos entre a Saxônia e o Brasil à época de Robert Schumann
Friedrich August II (1797-1854
) e seus elos com a família imperial brasileira


No bicentenário de Robert Schumann. Ciclo de estudos Saxônia-Brasil em cidades entre Zwickau e Leipzig - Vale do Mulde. Sessão em Rochlitz
Pelos 25 anos do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa
(
Institut für Studien der Musikkultur des Portugiesischen Sprachraumes, ISMPS e.V.)

 








  1. Fotos A.A.Bispo 2010©Arquivo A.B.E.



 

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